quinta-feira, 7 de outubro de 2010



Cintilas-me nos olhos como se pérolas me cobrissem quando me desnudas e no nosso reflexo a lua puxa a sombra para que nos beijemos sem timidez.
você é aroma de maçã, rubor  da manhã quente que me afaga com gosto, num verbo "ser" que me desalinha o rosto, que galga marés onde nos tornamos espuma, agarradas numa baía redonda que nos empurra até à praia mais calma, revolta e límpida, contemplando as dunas em remoinhos de cor pastel e mimos que se entranham na pele.
Há pureza e magia nas manhãs dos olhos que se entreabrem e descobrem que não houve pecado, que há amor na almofada do lado. És o refresco que me aplaca a sede, em cheiro de pãozinho fresco onde mergulho sem rede...
O som anônimo dos passos na rua perde-se lá fora e recorda-nos que é tempo de repentina aurora, que há corpos apressados, bonitos, lentos ou desajeitados, que correm em busca de trabalho ou companhia, enquanto nós permanecemos deitadas depois de percorrida a noite a desaguar no dia. Enquanto nós permanecemos abraçadas, ensonadas e reluzentes... a recuperar dos momentos ausentes. Como se amar fosse apenas isto, duas almas que se fundem num corpo misto. 
É neste silêncio de beijos aguados, em tons de azul, laranja e anil, que cumprimos o nosso amor. E é neste silêncio que só nós duas ouvimos que vão passando os dias agarrados ao tempo, num amor oferecido em bandeja de prata que se escolhe em dia de paixão - por acaso... ou talvez não. 
Somos do tempo dos primeiros toques de inverno, fruto de época sem abandono à vista... porque se torna genuína a conquista quando é a sua mão que se entrelaça na minha.


(Gosto tanto de ti que só de pensar em adormecer já me faz sentir saudades tuas.)


Carla


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